outubro 08, 2009

Depoimento de um ex usuário

      Quando liguei para ele, se mostrou muito interessado pela minha atitude de querer expor o lado dele.
Encontramo-nos no dia 3 de outubro de 2009, para uma conversa rápida, apenas para tirar algumas dúvidas. Estava com receio, não sabia o que esperar, admito que tinha um certo pré-conceito,estava aguardando chegar alguém com as roupas rasgadas,sujo,revoltado,mas não foi bem assim.Ele é um cara normal,educadíssimo por sinal,crente à Deus, usa suas roupas largas (amante do Rap) e estava muito bem arrumado e perfumado,se não fossem pelos seus dentes, nunca diria que já fumou.Eu iria gravar a entrevista, mas acabei por ficar só nas anotações,pois conclui que seria muito mais educado da minha parte.

      Contou-me que por curiosidade, aos 12 anos, começou a fumar cigarro e em pouco tempo, para se auto afirmar começou a fumar maconha.Quando conheceu o crack, tinha cerca de 20 anos e por tanto ter ouvido falar, resolveu experimentar. “Quando eu fumava pedra, sentia euforia e alívio” me disse. Mas foi aí que o inferno começou. Ao ficar sem a droga, sentia tudo de ruim que fosse possível, ficava nervoso, agressivo, hostil, sentia náusea, dor de barriga. Para conseguir mais pedras fazia qualquer coisa,vendia as próprias roupas,mentia pra conseguir dinheiro da família e quando isso não funcionava mais,chegou a cometer pequenos furtos.
     Ainda conta que já chegou a fumar mais de 40 pedras por dia, ficando “de virada” mais de uma semana (sem comer e sem dormir).As pedras eram adquiridas em bocas de fumo,nas vilas e até no centro,com alguns vendedores ambulantes nas praças.”Na verdade tem crack em todo lugar, em todas as vilas e bairros, chegando a ter 5 bocas na mesma quadra,aonde toda a comunidade sabe, mas silencia por medo.”
      Por fim me disse que se arrepende muito de tudo que já fez em função do crack nos seus 4 anos de vício.Há dois anos está livre de tudo isso, e agradece à sua esposa e sua filhinha,que mais do que apoio,lhe deram motivos para querer mudar,além disso,começou a freqüentar a igreja e através do evangelho,sentiu mais forças para deixar o vício. “Minha vida mudou em muitos aspectos,tenho liberdade,auto-estima e sonhos que antes não tinha.Sigo minha vida sendo muito feliz com a minha família e o rap gospel,ao qual me dedico para através do som ajudar outros que passam o que passei.Toda pessoa pode largar o vício, mas tem de se esforçar bastante ,deixar de lado quem te apoiava e acompanhava para fumar e se vigiar para não recair”.
Passo Fundo,07 de outubro de 2009
Ingra Costa e Silva