novembro 15, 2013

Meu abandono



Fui embora mais uma vez
Te deixei na míngua
Não olhei para trás

Com um sorriso no rosto
Disse que tudo ia passar
Que eu já estava bem
E você também ia ficar

Doce ilusão!
Meu coração gritava
E meu espírito se rasgava
Tentando me avisar
Que eu deveria ser só tua.

Fui embora mais uma vez
Te deixando sozinho no quarto
Mas em meio aos livros
Cigarros e roupas espalhadas
Ficou metade de mim.

Fui embora pela metade.
Um pedaço lá ficara.

Junto ao teu corpo
Teus livros
Nossos ideais de luta.
Tua cama

Minha alma
Junto a tua.
-ICS

outubro 15, 2013

Carta aberta

Ontem te escrevi uma carta.
Reservei um pouco do meu tempo para que você soubesse, de forma clara o quanto eu te odeio. O quanto eu desejava que sofresse. Que sentisse a mesma dor que eu senti quando me abandonou. Queria que a cada palavra que lesse, sentisse o rancor que usei ao segurar a caneta.
Desejei com todas as minhas forças que derramasse exatamente o mesmo número de lágrimas que derramei sofrendo por te amar e acredite, não foram poucas.
Reservei um tempo depois de trabalhar o dia todo, para que tivesse clareza sobre os meus sentimentos.
O meu rancor, a minha raiva, a minha dor.
Dor.
Essa me acompanhou bastante tempo. Ao lembrar, ao falar, ao fechar os olhos e ter a impressão de sentir teu cheiro de perfume forte misturado com a nicotina e o tabaco.
Mas depois que terminei de traçar aquele amontoado de letras, parei.
Revi tudo que aconteceu.
Como num filme vi você passando por tudo que eu passei.
Nas devidas proporções, nos decepcionamos da mesma maneira.
Perdemos o respeito um com o outro. Perdemos o fio do sentimento que (ao menos eu acho) um dia tivemos. Nos xingamos, gritamos, bradamos e praguejamos bem alto.
E arrisco dizer que só não nos matamos porque na maioria das vezes, brigamos a distância.
Distância...
A maior companheira da nossa história. E a que finda, novamente, o término de mais um ciclo.
Ao reler o que havia escrito, peguei com carinho o papel manchado da tinta de caneta borrada pelas lágrimas chatas que sempre insistem em cair.
Calmamente rasguei ao meio.
Peguei os outros dois pedaços e rasguei novamente. E assim o fiz, até vê-la em dezenas de pedacinhos com riscos ilegíveis.
Não é justo fazer a mal a você. Planejar que sintas dor em uma data tão importante.
Eu, que por anos fizera planos de como passaria esse dia contigo, que bolo faria, como o surpreenderia,hoje fazendo de tudo para destruí-lo.
Senti-me um lixo. Ou pior que isso.
Queria que fosse feliz. Quero.
Quero te ver bem, falando alto, sendo grosso como sempre foi e dando aquele sorrisão esticado que só tu sabes dar. Quero te ver feliz, seja com quem for.
Vi que conseguiu passar essa data com alguém que te trata como um dia eu já te tratei e que, pelo andar da vida, talvez não o consiga nunca mais.
Talvez?
Feliz aniversário.
Hasta siempre.

setembro 02, 2013

Camisa vermelha

Olhei
Parei
Voltei

Quem é o maloqueiro?

Neguin largado
Com a barba por fazer
Olhar despreocupado.
Cheguei junto, pode crer

Beijei.
Gostei
Levei.

Sem pudor eu guardei
Com as mais doces memórias.

O arranhão que deixou a barba
O cheiro do suor
Que ficou no meu vestido.
E a voz grave que dizia
-cê é mó linda-

Gritei.
Gozei.
Gargalhei.

Pra sempre,neguin, gravei.
-ICS

Gotas de passado

Talvez eu não durma tão bem
Sem o teu boa noite.
E talvez eu não viaje tão bem
Sem teu boa viajem.
Quem sabe eu não viva
-tão bem-
Sem você.
-ICS

Tá chegando a hora

Deslocada
Era assim que se sentia
Em meio à selva de pedra e verdes em que vivia.
Sentia falta de algo que não sabia o que era.
Saudade do que nunca teve.
Vontade de ter pra sempre
Aquele que sentiu apenas uma vez.
Incompleta com o que insistia em se prolongar através dos meses.
Fugira mais uma vez.
Sentia que aqui não era o seu lugar
Não se encaixava em lugar nenhum
Sempre sobrava
Ou faltava.
Mas nunca completava.
Queria correr o mundo
Curtir um som legal
Se amar
Andar largada..
Sair do fim do mundo.
Ir embora
Para se encontrar.
-ICS


agosto 31, 2013

Ô glória

-Meu, ninguém nunca olha pro cara que vende as camisa...
-Como não? Você é 'mó' lindo.
-As mina nunca acha
-Então elas são muito burras!

Foi aí que eu me senti
Como alguém que acha um tesouro!

Eu era das poucas que viu
Uma das almas mais lindas
Que pode existir.

ICS

julho 29, 2013

Esse é só pra te dizer

E eu acho que o que me conquistou
Foi esse teu jeito todo errado!

Foi essa mania insuportável
De me cutucar as costelas.

Foi esse costume odioso
De me fazer cócegas infinitamente
De me morder em público.

Ou de colocar o pé pra eu tropeçar
-e eu sempre tropeço!-

Os papos malucos sobre et’s
Os sustos enquanto assistimos filme
A vontade de viajar junto.

O calor com que me abraça
O carinho quando mexe no meu cabelo
O sorrisão do tamanho do mundo.


A pose de durão
Que some
Quando eu faço teu doce predileto.


Ou ainda quando deixa um bigodinho maroto
Só pra eu parar de pentelhar.

Esse não é mais um poema
Que eu escrevoinspirada em você.
É só um amontoado de letras que eu uso pra dizer:
-Eu também estava com saudade.

-ICS

Admito

Ainda sinto a necessidade
De confrontar debates mentirosos.

Argumentos infundados
Muito me perturbam.

Assim como os teus.

Que fazem que eu abandone
qualquer indiferença
E dedique meu precioso tempo
Para desconstruir teus argumentos falhos.
-ICS

julho 26, 2013

Das coisas que não entende

Há tempos tornei-me indiferente
Pouco me importa o que fazes da vida
O que lê, escreve
Ou em quais corpos se aconchegou.

As dores que um dia senti
Foram tiradas de mim
Por alguém bom.

Ao contrário do que pensas
Não
Não continuo apegada ao passado
Apenas o uso de inspiração para os escritos
Que insistem em sair dos meus dedos
Que digitam sem pensar.


Inspiração
E nada mais.


Não se iguale ao que vivo ou vivi
Nunca me conheceste
Assim como não o conheci.

Vivemos em tempos distintos

Não jogues em mim
A culpa do teu sentimento
De incompetência em me fazer feliz.


Nunca quis que se sentisse culpado
O fizeste sozinho.

-ICS

Aviso aos leitores

Não sejam hipócritas!
Inspiração é diferente de sentimento
Escritores são assim
Sentem mais nas letras que no coração.
E o que não sinto, invento.

Aumento.

Escrevo com a alma, sim.
Mas ninguém disse que precisa ser verdade.
-ICS

julho 19, 2013

O que te incomoda mais: a nudez ou a orgia política?

Foi começar a ser divulgada a foto dos “Pelados da câmara de POA” que o falso moralismo começou a ecoar pelas redes sociais.

Vi de tudo. Pessoas desmerecendo o movimento, chamando de putaria. Exaltando o desrespeito com a ‘casa do povo’ que, diga-se de passagem, é casa daquele povo ali também. E sinceramente eu costumo ficar pelada em casa.

Eu não sei se tenho um cérebro avançado, se tenho o cérebro atrasado ou se vivo numa bolha, mas na minha concepção de mundo ver pessoas peladas em forma de protesto, NADA TEM DE CHOCANTE! MUITO MENOS IMORAL OU RETRÓGRADO.

Para mim, retrógrado é ver a coisificação do corpo da mulher em propagandas que fomentam o consumismo exagerado (e o machismo também). Imoral é viver em um país tropical, aonde todo mundo anda semi nu a maior parte do ano e faz um dramalhão quando vê alguns pênis e vaginas de pessoas que não são modelos.

Num país aonde a nudez (dita como arte) do carnaval é ovacionada não só pelos brasileiros, mas é um dos cartões postais do país, e quando usada como arte revolucionária, é vandalismo.

Num país aonde o banquete de R$28 mil que o presidente da câmara dos deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB) ofereceu com o NOSSO DINHEIRO (pois foi custeado com suprimento de fundos) sequer é mencionado nas redes sociais afinal, os vândalos estavam pelados.

Penso, meus queridos moralistas de plantão, que está na hora de colocar a mão na consciência e rever seus conceitos. Pois se a corrupção te assusta menos que órgãos genitais, acho que os seus valores estão meio deturpados.

E se ficar pelado for o caminho para a revolução, com licença, já estou tirando as meias.

Ingra Costa e Silva.

julho 18, 2013

Mês VI


Passaram-se mais 30 dias
Descompromissados
Lado a lado
Desavisados
E sem rumo...

Viajando pela nossa estrada
Sem destino certo.
Traçando caminhos únicos
Desenhando uma nova história.

Deixando-se levar, apenas,
Por sorrisos sinceros
Abraços quentes
E carinhos sem ter fim.

-ICS

julho 11, 2013

Era um 12 anos

O barulho das teclas da máquina de escrever ecoavam dentro da velha casa de madeira.
Na mesa, algumas folhas amassadas e um copo de whisky. 
Mulheres não costumavam beber isso. 

Mas ela não costuma ser como as mulheres.
Fumava. Bebia. 
Fodia com quem queria.
E sofria.

Sofria como nenhum cachorro sarnento de rua jamais sofrera.
Agoniava.

Toda vez que lembrava de seus amores era como se suas vísceras fossem arrancadas com as unhas afiadas de uma águia.

Tec tec tec.
Seus dedos que procuravam letras freneticamente quase sangravam.
E ela preferia que fosse assim.

Quem sabe com o sangue escorrendo das mãos, a dor seria direcionada.
Pois já não aguentava sua alma mergulhada em agonia.

-ICS

Tec tec tec

E quando a tristeza não pode escorrer pelos olhos
Ela corre pra os meus dedos
Que digitam freneticamente
Como se a cada letra que eu batesse
Tirasse um pouco do peso
Que hoje carrego no coração.
-ICS

Abandono

Talvez não tenha nada mais cruel
Que a dor do abandono.

É uma dor lancinante
Destruidora

Percorre as entranhas
Corrói de dentro pra fora.

Machuca.
Destrói.

Ouvir passos que não são os teus
Uma risada que não é a tua

Sentir o vento nos meus cabelos
Sussurrando que você não vem

E que mesmo sem você vir
As estrelas continuarão brilhando.

O céu continuará azul
E os teus olhos, marejados,
Verdes.

-ICS

junho 29, 2013

Do diálogo que temos diariamente em pensamento

E aí, no que você tá pensando?
Nada. E você?
Que eu sei que ainda pensa em mim.
E tu em mim.Só isso?
...

E que ao menos a tua voz continua a mesma.
...

Tomara que afunde esse barco maldito!
Tomara.
Boa noite.

Boa noite é?
...

Boa.

-ics

maio 02, 2013

Quase anjo


Navego no mar dos teus olhos
Imensidão cor de caramelo.
Hipnotiza-me.

Um arqueado traço
Com uma peculiar falha,
Encerra o desenho perfeito.
Desestabiliza-me.

Num toque final
À pintura do seu rosto,
Estampas o mais belo sorriso
Que um ser -que não um anjo-
Já ousou ostentar.
Apaixono-me.

A boca fazendo o ângulo perfeito
Os dentes, tão brancos que te fazem brilhar
E os lábios, carnudos
Convidam-me a prová-los.
Desejo-te.

Mordê-lo
Tocá-lo.

Hipnotiza-me
Me acolhe.
Bate suas asas
E me leva.
-ICS

maio 01, 2013

Perdas e danos

Passam-se décadas
E o sentimento não morre.
Sempre a mesma dor e saudade.
Pelos olhos, a mágoa escorre.

As músicas já não são as mesmas
Em cada nota,a  visível amargura.
Os livros já não me atraem
Leio apenas a nossa história
E sigo nessa tortura...

Tento recomeçar do zero
Mas não saio do ponto de partida.
Nunca alcanço a chegada
E talvez nem a queira. 
No fundo, sempre te espero.
-ICS


abril 26, 2013

E se quiser me falar algo

Pare de escrever nostalgias e dor de perda.
Engole esse orgulho
Pegue na minha mão
Olho no olho
Maturidade na alma
E fale uma última vez.
-ICS

abril 25, 2013

E o que foi prometido ninguém prometeu

48 cores


Limpando o quarto encontrou uma carta antiga..
Não escrevera a carta a mão.
Quando a ganhou, ficou chateada.
Queria guardar as letras dele.

Queria aqueles infinitos erros de português que tanto a perturbavam
Com o teu toque direto no papel.
Queria cheirar aquela folha e sentir teu perfume único.

Colocou todo o pouco que tinha 'de nós' dentro de uma caixa.
Guardou as lembranças para que, nas madrugadas solitárias
Secretamente releia e reviva tudo de bom que viveram.

Nunca fora boa com sentimentos.
Sempre os canalizava de forma errada.

Fugia.

O desejo de que o dia passasse logo para o ver
Virava uma desculpa para não vê-lo.
A vontade louca de tocá-lo
Transformava-se no telefone que tocava até a ligação cair.

O desejo de tornar o romance oficial
Foi traduzido com passagens só de ida para o litoral.

Sempre fizera tudo errado.
E sabia disso.

Mas só queria a letra feia num papel
O cheiro no travesseiro
E uma argola brilhante no dedo.

Mas fugia.
Sempre fugia...

Ao menos ainda guarda a caligrafia
-dizendo que colore sua vida-
Gravada na alma.

-ICS

abril 21, 2013

365 dias

12 meses. Um ano.
8760 horas é o tempo
Que viraste minha vida de pernas pro ar.

Deste e tiraste meu chão.
Me encheu de sonhos e virou meu pesadelo.
Foi o motivo de eu dormir sorrindo
E também de virar noites chorando.

Tanto tempo...


Risadas horrorosas
Colo acolhedor
Olhos fraternos
Ódio no olhar.
Dor....

525600 segundos de músicas estragadas
De lembranças desastradas
e feridas mal cicatrizadas.
De sorrisos e carinhos sem ter fim
De conversas inacabáveis
Discussões fervorosas
Livros trocados
e meu Deus!
Que risada horrorosa!

Tão pouco tempo...
 
De amor
Erros
E dor.
Muita dor.


E foram felizes para sempre?
Talvez.
Mas agora, cada um de um lado.

-ICS


abril 19, 2013

Saudade é pra quem tem




E se a você alguém deu amor

Tenha certeza

Teu lugar está intacto.

Por mais que silencie

O que se dá a alguém

É ímpar

E não será de mais ninguém.

-ICS

Quando falta o ar

Acabar
Terminar
Rechaçar
Chorar
Delirar
Soluçar
Suspirar
Relembrar
Implorar
Aguentar
Aguentar
Aguentar
...
Amar.

-ICS

É sempre essa história de ficar de mal

Sempre achamos um culpado.
Quando não achamos, tentamos.
Precisamos colocar a culpa em algo para justificar os nossos erros.

Sentimos a necessidade de achar uma explicação
Para não ter mais aquele abraço
Aquele carinho
Aquela risada horrorosa.

Precisamos de uma desculpa
Por ter perdido o emprego
Por ter perdido a hora
Por ter deixado o amor escapar
por entre os dedos.

Buscamos desesperadamente
Por algo que explique porquê não demos valor
Que justifique o final que não foi feliz.

Já não me importa saber quem errou
Pra gente foi fatal
Acabou.

-ICS



E no fundo é tudo igual



E essa coisa de não falar sério nunca
Me trouxe lembrança dos olhos verdes
Que passaram na minha vida
Devastando tudo como em um dilúvio

Assim como a chuva incessante,
Molhou a minha alma de lágrimas.
Devastou o meu coração
E matou tudo que estava desprotegido.

Mas um dia o sol abriu
E a arca parou.
Descobri que nunca quis o Noé
E no fundo, ele não serviu pra nada
A não ser, passar pelo dilúvio.
-ICS

março 31, 2013

Como vai seu mundo?


E as coisas simples e corriqueiras
Como um carinho na mão
Um beijo no ombro
Ou dividir um chimarrão
Que te fazem tão certo pra mim.
-ICS




março 27, 2013

Um lugar de ser feliz


Existe o costume de dar-se presentes quando alguem aniversaria. Ganha-se perfumes, jóias, ursos de pelúcia ou qualquer outra lembrança. E entre os presentes que desde já venho adquirindo em virtude dos meus 22 anos que serão completados na próxima semana, creio que um ndos que mais me tocou foi esse monte de letras reunídas pelo amigo e parceiro de escrita Leonardo Lima. Mesmo colocando-me numa posição que não consigo sequer me imaginar, confesso que abri muitos sorrisos a cada parágrafo que lia. Sem palavras para agradecer meu querido. E que nossa parceria dure muitos e muitos anos.
Abaixo, o presente.






UM LUGAR DE SER FELIZ

Há muitos e muitos anos, em um reino distante, encravado nas terras vermelhas do Planalto Médio do sul das Américas, vivia um povo diferente. Eles não se organizavam como as sociedades atuais, não havia leis, não havia religião, não havia fronteiras e as famílias eram compostas de acordo com o interesse de cada pessoa, sem a obrigatoriedade dos agrupamentos de dois. Eles até gostariam de eliminar a divisão social que os separava de sua rainha, mas nem ela e nem eles conseguiam, tamanha era a luz própria e encanto que ela exercia sobre todos.

Ela era uma mulher linda, charmosa. Sensualidade era para ela como respirar, não exigia nenhum esforço. Ela parecia ter saído de uma fornada artesanal da argila mais fina e pura da região. Sua pele era macia e brilhava quando qualquer feixe de luz ousava tocá-la. Seus olhos pareciam duas ágatas marrons que, como bom quartzo, ainda guardavam a luminosidade, o calor das lavas e a força da erupção que as gerou. Seus cabelos longos e ondulados eram como labaredas, cheios movimento, de nuances, de cores e muito ton sur ton. Suas formas eram irritantemente perfeitas e invadiam os olhos dos que olhavam. Seu corpo era adornado com metais e tintas que a deixavam, além de bela, exótica. Suas roupas e panos, escolhidos para combinar com cada ocasião e curva do seu corpo, faziam valer a vista. O conjunto era deslumbrante. Uma visão.

Mas essa rainha era ainda mais intrigante. Era uma rainha sem rei. Sorria ao passar por todos e, como uma sereia, hipnotizava, mesmo sem querer, quem estivesse ouvindo. No começo esse encanto deixava-a constrangida, mas com o passar do tempo ela compreendeu que seu papel e sua essência eram esses. Não havia como mudar sua essência e lutar contra sua natureza sedutora. Ela era e adorava ser o centro das atenções. Adorava o feitiço que causava. Adorava o poder que, em silêncio, apenas com o olhar ou com um movimento mais insinuante, ela exercia sobre os homens e mulheres de seu reino. Ela provavelmente se insinuava em silêncio para não causar alvoroço em seu reino.

E foi assim, que a Rainha Ingra, das terras vermelhas do Planalto Médio, fez seu reino prosperar em felicidade. Lá, ela não travou batalhas e nem sangrou por conquistas. Lá as únicas conquistas eram as que ela desejava trazer para seu leito real, e foram muitas. A cada ameaça de invasão, ela cavalgava nua enfeitiçando os exércitos inimigos que logo se negavam a ataca-la. Muitos desertavam e juntavam-se a seu reino jurando amor eterno. Ela nunca desejou expandir suas terras e jamais usou seus poderes em causas pouco justas. Ela somente combatia os que agrediam suas crenças. E combatia com ferozmente, estes sim, ela fazia sangrar, até matar suas vidas e calar suas vozes.

A rainha Ingra nunca se casou. Ela tinha amores demais e não conseguiria escolher apenas um. Vivia com todos eles em seu castelo em uma harmonia pouco usual nos dias atuais. A veneração por aquela mulher era tamanha que, esses homens e mulheres que viveram ao lado dela, sempre a preservaram de ter que fazer este tipo de escolha excludente. Intensa e muito fiel às suas crenças e valores, ela ensinou aos que puderam dividir sua cama, os prazeres mais duradouros, os mistérios que se escondem em cada canto do corpo, a magia dos beijos, o segredo do toque, as manobras que só com aqueles lábios carnudos e deliciosos ela conseguia fazer, a necessidade de brincar com os aromas e sabores, de amar com carinho e ternura, sem esquecer a força e a fúria, que o desejo faz surgir na hora do prazer.

Era amada como rainha, mulher e amante. Simples, ao mesmo tempo em que era complexa e extremamente inteligente. Buscou estar sempre demonstrando seu amor a todo instante e sempre esperou que as pessoas que amou fizessem o mesmo. Ela não deu para não receber. Deu, não pediu nada em troca, mas seu coração sempre esperou reciprocidade.

Mas também era suficientemente prática para não perder tempo com quem não dedicasse o tempo que ela determinava que merecia. Ela se dava demais para não receber. Protegia demais para não ser protegida. Afinal, apesar de ser rainha, Ingra era mulher. A MULHER. Mas não mulherzinha que se dobra e se autodestrói para parecer mais frágil e chamar a atenção. Isso para ela nunca foi problema.

Muito astuta, Ingra que sempre foi muito preocupada com as finanças do reino, fez as economias crescerem, as riquezas aumentarem e seu patrimônio multiplicar. Rainha que além de bela amava o belo, Ingra que já nasceu com poder, sempre teve, no poder financeiro, a segurança para realizar todos os desejos pessoais e os desejos que trariam benefícios para seu povo. Vaidosa, a rainha sempre vez seu povo ver sua imagem associada aos mais belos vestidos, às melhores joias, pedras, sapatos e tudo de melhor que fizesse par com sua beleza.

Ela teve alguns herdeiros, mas o Reino das Terras Vermelhas do Planalto Médio não fazia sentido sem a Rainha Ingra. Ao final de sua vida, seu último desejo foi que todo seu povo se espalhasse pelo mundo e multiplicasse seus valores de liberdade, justiça e coragem. Que eles ensinassem aos menos possibilitados como lutar pelo que desejam e pelo que é justo. Que sua memória fosse celebrada em atos de bravura, em movimentos de contestação contra o desamor. Que sua vida fosse lembrada onde houvesse tristeza e dor, para que sua história ajudasse a trazer alegria e fé. Para que assim como foi seu reino, outros muitos reinos pudessem surgir e formar um mundo de respeito, felicidade, harmonia e paz.

Ao terminar de falar, a rainha Ingra fechou os olhos e toda aquela luz que brilhou durante os muitos anos em que viveu, começou a se espalhar pelo quarto. Era dia 02 de abril. As pessoas que estavam no quarto foram invadidas por essa luz e uma sensação de tranquilidade acalmou seus corações, elas puderam sorrir, o brilho era muito intenso. Quando parou, a rainha mais amada do mundo já não estava mais ali deitada, mas todos podiam sentir sua presença viva em seus corações.

FIM.

FELIZ ANIVERSÁRIO RAINHA

 

março 25, 2013

Aulas de direção

E entre chamegos e agradecimentos
A certeza de que as coisas deveriam ser assim.

Até ou pra onde vão?

Nenhum sabe.

Não fazem idéia
De que futuro os aguarda.

Diferente de outras vezes
Decidram não planejar nada

Sem rumo certo,
Apenas seguir.

E andar sem direção têm sido tão bom...
-ICS

março 22, 2013

Vem cá















-Obrigada por estar por perto neste momento tão difícil
-Nunca mais me agradeça por isso

Silêncio.

-Mas porque?
-É meu dever cuidar de ti.

E depois dessa, até a doença ficou com vergonha 
E foi embora.

-Vem cá, me dá um abraço.

-ICS

Do medo que seja só um sonho














Senti-te nos meus braços
Pequeno e frágil
Charmoso e encantador
Tão dependente de mim
E eu tão dependente de você.

Com os olhos grandes
Iguais aos meus
E as mãos tão pequeninas
Que mal seguravam meu dedo
Deu seu primeiro sorriso

Senti como se segurasse o mundo
Em meus braços.
E segurava:
O que agora era o meu mundo.
-ICS



março 21, 2013

E o medo da morte faz pensar


Dormi preocupada essa noite
Fiquei pensando nos filhos que não tivemos
No vestido de noiva que não usei
No pagode que não tocou
Na promoção que eu não tive
E no aumento que você não ganhou
Na viagem que não fizemos
E no colo que você não me deu
E no colo que você não me deu
O colo...

E você:
Também tem medo da morte?

-ICS



Ficar doente e outros devaneios



Sempre precisei ser forte. Transpareci força e pulso firme desde muito nova. Ser a pessoa que ampara os outros, que dá colo, que cuida.

E sempre gostei dessa imagem de força. Ser reconhecida e associada à imagem de guerreira, de mulher que não se entrega. De ser o sexo forte. Acima de qualquer imagem, ser assim. Sempre fui.

Mesmo sendo a caçula, desde muito nova precisava resolver os problemas da família. Apaziguar conflitos, decidir o futuro dos 4 Costa e Silva’s. Inclusive, quando viramos 5.

E assumi a responsabilidade com gosto.

Fiz questão de ser uma Rocha. De segurar as pontas quando tudo parecia estar perdido.

De, do alto da minha ogrice, usar palavras doces para confortar quem agonizava em dores e conflitos existenciais.

Mas mesmo a mais resistente das Rochas, um dia quebra, racha. E ficar doente, sem dúvida é algo que eu não sei.

Passando por problemas de saúde, percebi o quanto ser assim pros outros faz com que as pessoas não saibam como te amparar quando for a sua vez de receber um colo.

Ser a Rocha, a forte, coloca-te numa posição de intocável. Uma vez nessa posição, dificilmente saberão como tratá-la como a pessoa que deve receber o afago, o amparo, a força para que consiga seguir adiante.

Toda vez que fico doente, torno-me meio filósofa. E nessa filosofia inútil chego sempre a mesma conclusão: quem nasceu para ser rocha, nunca há de ser o diamante que fica acomodado na caixa de veludo vermelho.