setembro 06, 2011

A poesia prevalece

Quando show e espetáculo viram uma coisa só

     Passo Fundo. 25 de agosto de 2011. Manhã nublada, fria e fechada. Eu tremia. Um dos dias que eu mais esperei na minha vida estava prestes a se tornar realidade.
    Quando eu ouvi “Senhoras e sem dores, respeitável público pagão, bem vindos ao Teatro Mágico” minhas pernas amoleceram. Fernando Anitelli entrou no palco, com o rosto mascarado pela pintura característica da trupe. Quando ele se postou na minha frente com aquela capa de veludo vermelho e disse a frase que eu mais ansiava ouvir, admito, uma lágrima rolou pelas bochechas gordinhas e cheias de blush.
     “A poesia prevalece!” me deixou arrepiada. A ficha caiu. Era realmente O Teatro Mágico que estava ali, na minha frente. Prestes a entoar as canções que mais me emocionam, que mais me tocam.  Sentada no chão sem qualquer calçamento do Circo da Cultura, eu pouco me importava se as pessoas achariam estranho me ver chorando, hipnotizada e depois rindo realizada.
     O Teatro Mágico subiu ao palco para mostrar aos leitores como a união de poesia, música, arte performática e humor é possível. E de maneira simples, arrancaram aplausos entusiasmados dos pequenos que assistiam hipnotizados a performance de Déinha Lamego no tecido e dos maiorzinhos, que tinham os olhos brilhando enquanto entoavam as composições de Fernando Anitelli. 
    Junto comigo estavam os meus Camaradas d’água Mateus e Vanne que, assim como eu , evocaram da sombra uma inquietude que só acalmava com o som da trupe. Partimo-nos em vários enquanto acompanhávamos as frases do show que pareceu tão curto, enquanto a porta do camarim virou ponto de conversa ou quando saímos como se fôssemos grandes amigos (acho até que somos).
     Eu precisava pegar algumas falas do Fernando para fazer uma matéria. Ser profissional naquela hora exigiu bastante esforço. Enquanto eu perguntava ou escutava atentamente o que ele falava, o microfone chegava escorregar na minha mão, de tanto que ela suava. Anitelli respondia com naturalidade e com gosto em dar respostas com conteúdo tremendo.  Mais que um cantor, sem dúvida. Um cara, um papo, um sopapo, um papelão
     Anitelli se mostrou simpático e muito acessível. Respondeu calma e pausadamente com riqueza de detalhes todas as questões por mim levantadas. Contou de onde surgiu a idéia da trupe, gesticulava o tempo todo enquanto me falava a maneira como tantos raros foram se agregando e me fazia rir com seu tique nervoso. As 'quebradinhas' de pescoço e piscadas apenas com o lado direito dissiparam todo o meu nervosismo.
     Sem contar a minha emoção, quando Fernando viu a minha tatuagem que tem escrito "A poesia prevalece", na panturrilha e disse que demonstrações como essa são de uma gratificação enorme para ele e o quanto essa frase é importante para ele.Uma filosofia de vida. Assim como para mim.
Foi um dos dias mais felizes da minha vida, tenho certeza. E só queria dividir com vocês.
Certamente não é dos meus melhores escritos, mas certamente, o mais carregado de emoção e satisfação.

O Teatro Mágico surgiu em dezembro de 2003, pela atitude de Aniteli que ao freqüentar saraus literários, ficava perplexo com a beleza da junção de manifestações artísticas que acontecia ali. E a idéia foi partilhada com amigos e amplificada indo, então, pra cima de um palco. A questão do palhaço surgiu um pouco mais tarde, com inspiração na “commedia dell'arte” numa tentativa de igualar o artista e o expectador. Transcender a barreira palco-platéia afinal, todo mundo tem um pouco de palhaço.
A Trupe
A trupe vem de Osasco e traz em seus arranjos frases que nos levam a reflexão, como em Zazulejo, que conta a história de pessoas que falam erroneamente algumas palavras e finaliza com a impactante frase “Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz”. O Teatro nunca teve uma música no pódio das paradas de sucesso, mas acredita que o seu trabalho está sendo cumprido: “Mesmo que não esteja na mídia, está sendo produzido, está sendo consumida por alguém. Mesmo com tantos tipos de músicas que são ouvidas atualmente, sempre haverá gente tentando fazer música de resistência com letra bacana e um bom arranjo. E sempre haverá alguém que vai simpatizar e gostar” diz Anitelli. 
O vocalista ainda afirma que a internet acaba sendo uma concorrência direta com as rádios, pois divulga o trabalho dos artistas numa velocidade imensa, além de dar ao artista a possibilidade de ‘existir’. A rede tira o atravessador cultural deixando o artista frente a frente com o público. E isso é fundamental.