dezembro 30, 2011

Um ano de revoluções


Revolução árabe, 15.O, ocupações de reitoria. Mas mais que isso: uma revolução na minha vida

Eu sei que todo final de ano é a mesma coisa, o pessoal começa com suas retrospectivas do ano que passou e publicam em algum lugar da internet, como se fosse interessante para os outros saberem disso. Para os outros pode não ser, mas para quem faz, é uma espécie de desabafo, uma necessidade de relembrar o que aconteceu de bom e também, o que aconteceu de ruim. Reafirmar sentimentos que já existiam ou passaram a existir e extinguir aqueles que foram desvalorizados. Reafirmar o que fez bem e analisar o que fez mal, para que não aconteça novamente. E é nesse intuito que eu, após abandonar meu blog por meses venho traçar a minha retrospectiva de dois mil e onze.
Posso dizer que foi um ano de grandes emoções. O início do ano serviu para que ex amores mostrassem quem verdadeiramente eram e me explicassem porque eram ex. Vi a face mais obscura da injustiça ao ouvir absurdos e ameaças da pessoa a quem dediquei boa parte da minha vida. A pessoa que por muito tempo foi o meu Norte. É uma queda cruel. Mas nada que uma gordinha serelepe não consiga se recuperar.

Aproveitei-me desse rompimento por completo para dedicar-me ao que muitas vezes fui privada: a luta. Não só a luta física (querido Muay Thai que precisei abandonar de novo) mas a luta pela sociedade ideal. Pelo que eu acho certo, por uma sociedade igualitária, sem preconceitos, sem miséria,sem corrupção. Esse caminho da militância foi meio tortuoso no início. Pensei que um partido político dito “de esquerda” seria a melhor opção para militar. Ledo engano, pois com o passar do tempo percebi que os interesses que eram tratados ali não eram os do povo, mas de uma minoria burguesa que ditava as regras conforme estava o vento do governo. E como tanto federal como estadual são deles, as minhas lutas que iam de encontro aos interesses/metas/idéias deles, fiquei patinando, sem sair do lugar. Uma militante solitária.
Então, conheci pessoas que tinham os mesmos propósitos que eu e surgiu o Nada Será Como Antes. Aonde as discussões foram aprofundadas e uma chapa para concorrer ao DCE da UPF foi montada. As eleições foram uma palhaçada, contra o estatuto, com ameaças contra os nossos apoiadores e integrantes da chapa, mas no fim, saímos todos vivos e sem desistir da luta. Pode parecer piada, mas levado para nível nacional sabemos que historicamente, a União da Juventude do Sarney já matou por menos.
Eleições essas que além de me acrescentarem muito politicamente, acrescentou sentimentalmente. Conheci pessoas que nunca conheceria se não fosse pelo movimento. Pessoas com quem tive conversas que duravam horas sobre a situação política do país, mas que também fiz festas memoráveis que merecem até hoje um cantinho no baú das melhores memórias.

Conheci amigos, companheiros de luta, amigos-companheiros de luta, amigos-companheiros de luta-namorado.Como assim? Assim mesmo! Um dos militantes que veio de fora (no caso, do DCE da UFRGS) para nos ajudar, se mostrou o cara mais legal que eu já conheci na vida. Que despertou em mim, sentimentos que eu nem sabia que poderiam existir, tanto pelos outros, quanto por mim. Sabe, dos meus poucos anos de vida aprendi que não é legal ficar projetando demais a vida ao lado de outra pessoa, pois caso não dê certo, a frustração e a decepção aparecem de forma ainda mais dolorosa. Mas ele me ensinou muita coisa e se eu pudesse escolher alguém, mesmo com todos os defeitinhos, seria ele. Enfim.
Na metade do ano teve o CONUNE. Experiência que serviu ara mostrar o quanto o Movimento Estudantil pode ser corrompido. A UNE que muito foi de luta nas décadas passadas, hoje não representa o estudante e a sua luta. É capacho do governo e pior ainda, se envolve em escândalos que comprovam o uso de verbas destinadas ao movimento em festas particulares. Esses são os que assumem cadeiras do senado, das câmaras e que fazem showmícios enquanto embolsam o seu dinheiro. Esses são os políticos de amanhã.
A experiência do CONUNE serviu (além de testar meu tempo máximo sem fazer chapinha) para mostrar que o partido que eu já muito havia defendido, que na sua criação ditava que apenas o socialismo era a saída para uma sociedade justa, de fato não me representava mais.

E um debate sobre homofobia organizado pelo DAALL, um dos poucos DA’s de luta da UPF, abriu meus horizontes. Sentimentos que há muito vinham sendo reprimidos encontraram força quando conheci algumas pessoas que estavam lá. Fui convidada a participar de uma reunião de um tal grupo que estava surgindo depois do debate. Aquele que desencadeou em mim a coragem de assumir que gostava tanto de homens quanto de mulheres também foi o fomentador para que muitas pessoas sentissem a necessidade de militar pela causa LGBT.
Nasce então o Plural. Um coletivo que com apenas três meses de vida, já tem visibilidade nacional.  Estamos começando, engatinhando, mas é claro para todos que o futuro é nosso.

Tiveram ainda eleições para Diretório Acadêmico. Primeiro o DAALL, que o PCdoB teimosamente tenta ocupar há anos, mas como tal partido e luta não cabem no mesmo espaço, óbvio que a vitória foi nossa. Uma vitória gostosa não só pelo fato de ser uma vitória, mas por ser uma vitória sobre pelegos declarados.
Depois ainda, eleições para o DAINFO, chapa única, mas nossa também.  E na mesma época, eleições para o DACG, na FAC, meu prédio. A Chapa (esse era o nome mesmo. Hehe) surgiu naturalmente, com pessoas que queriam reerguer o DA após tanto tempo fechado e, quem sabe, zerar as dívidas que a penúltima gestão deixou. Dívidas descabidas e algumas, inclusive, pessoais dos representantes. Exemplo claro de que o mau caratismo não poupa nem colegas e companheiros de curso. Tivemos uma vitória digna, mais que o triplo dos votos que a outra chapa. Outra chapa essa, que ganhou “auxílio” do nosso DCE pelego.  E mais uma vez a vitória teve um gosto acentuado. Mais uma vez quem é de luta MESMO ganha e deixa a pelegada chupando o dedo.
Ainda o DCE da UFRGS, que eu quase morri de nervoso por que não podia fazer nada daqui de Passo Fundo a não ser campanha via internet. Mas que foi uma das várias vitórias saborosas que tivemos. Que ganhou das pseudo-esquerdas e da direita assumida, essas que diziam que o lugar do negro é na cozinha do RU.

E o jornalismo?
Ah o jornalismo... Comecei o ano com uma crise de curso/profissão. Pensei em desistir, trancar a faculdade, não era aquilo que eu queria.
Eu que trabalhava de secretária num lugar aonde tinha muitos amigos, sofri mais uma vez com a punhalada da falsidade. Um destes “amigos” , por motivos ainda desconhecidos, agiu de maneira com que eu fosse demitida. Foi tenso na época. Sempre fui  eu que paguei as minhas contas e sem emprego, trancar a faculdade não seria só pela crise de identidade.
Eis que surge um estágio, para jornal impresso. O sonho, do início da faculdade virava realidade. Independente da editoria, independente de se era estágio, eu estava dentro de uma redação e era isso que importava. Hoje, não troco por nada! O salário é pouco?É. Tive que financiar a faculdade porquê com a bolsa do estágio não ia rolar? Sim. Mas nem to. É aquilo que eu quero e por isso que eu estou ali.
Conheci profissionais maravilhosos ali dentro e nos quais tento me espelhar todos os dias ( mas fica em off pra não se acharem) e tenho certeza que tiro mais conhecimentos dali do que da própria academia. 

Momentos
Conhecer o pessoal do O Teatro Mágico foi um sonho realizado. Um dos momentos mais felizes da minha vida. Que eu certamente NUNCA vou esquecer.
Os almoços memoráveis da FAC. Cada um com uma história para ser contada durante anos.
A perda de um mestre. Uma dor que eu nunca tinha sentido.
As milhões de mudanças de cabelo que eu fiz.
Os amigos de POA, que ouviram muito de mim antes de me conhecer. Cada um com a sua loucura, digo, singularidade. Todos (ou quase todos) especiais e que já me conquistaram.
Seja na minha barraca ou na tua, com bilisquili ou não. Só quero que me diga uma coisa:
O que é que tu achou do Plínio?

Sei que muita coisa ficou de fora, mas não é menos relevante.Deve ser levado em consideração que são 06:36 da manhã e que depois que eu postar isso, que eu vou dormir.

E para o ano que vem, ouso parafrasear Walt Whitman:
“A pé e de coração leve enveredo pela estrada aberta
Saudável, livre, o mundo à minha frente
À minha frente o longo atalho pardo levando-me aonde eu queira
Daqui em diante, não peço boa-sorte. Boa-sorte sou eu...” 

Que a poesia prevaleça na vida de todas as pessoas.
Um Feliz 2012. Uma feliz vida. Viva. Seja.
Let it be.