novembro 09, 2009

David Coimbra

     David Coimbra nasceu em Porto Alegre em abril de 1962. Formado em jornalismo pela PUC-RS, chegou a trabalhar em mais de 10 redações do Sul do Brasil. Hoje, além de comentarista da TVCOM, é editor executivo de esportes e colunista da Zero Hora e estrela móvel do programa Pretinho Básico na Rádio Atlândida.
     Ainda quando estava na faculdade trabalhou como assessor de imprensa da Livraria e Editora Sulina. Redigia resenhas, entrevistava autores e acompanhava escritores em suas visitas ao Rio Grande do Sul.Escrevendo,ao longo de sua carreira 13 livros.
     Suas obras são:
º 800 Noites de Junho - reportagem sobre o que ocorreu com o deputado Antônio Dexheimer, principal acusado do assassinato do também deputado e radialista José Antônio Daudt, em 1988
ºA História dos Grenais - a trajetória do maior clássico do futebol gaúcho
ºAtravessando a Escuridão - reportagem sobre um mineiro de carvão torturado pela repressão durante a ditadura militar no Brasil
ºA Mulher do Centroavante - crônicas
ºA Cantada Infalível - contos
ºViagem - histórias de viagens
ºCrônica da Selvageria Ocidental - crônicas e contos
ºCanibais - romance
ºMulheres! - crônicas e contos
ºPistoleiros Também Mandam Flores - folhetim publicado pela editora L&PM
ºJogo de Damas - onde trata sobre a importância das mulheres
ºCris, a Fera - folhetins publicados originalmente no seu blog
ºMeu Guri - crônicas sobre seu filho, Bernardo
     Ganhou ainda 10 prêmios ARI de Jornalismo (concedido pela Associação Riograndense de Imprensa), além de ter recebido o Esso Regional Sul e o Prêmio Direitos Humanos de Reportagem. Como escritor, foi vencedor dos prêmios Açorianos, Habitasul e Erico Verissimo de Literatura.

Entrevista

 Além de jornalista, você também é escritor. Sempre foi envolvido com o mundo da leitura ou só depois de adolescente?
-Eu sempre gostei de ler e escrever, até antes de ler e escrever eu já gostava desse universo.

E o que você costumava ler?
-Em casa eu tinha muitos livros, minha mãe era professora,meu avô gostava muito de ler também e eu sempre estava ali convivendo com eles e os livros, mas desde pequenininho o que realmente me atraia era qualquer coisa ligada a disciplina de História.Claro que quando você é mais pirralho costuma ler história em quadrinhos,histórias infantis e essas coisas todas,eu até me lembro que lá em casa tinha a coleção Mundo da Criança e como minha mãe vendia essas coleções eu sempre acabava lendo, mas o que realmente me fascinava era a disciplina de História.

E você era um aluno aplicado na escola ou era mais levado?
-Nem uma coisa nem outra, eu não era CDF pois eu não era um aluno estudioso,eu sempre gostei de ler mas não era exatamente um aluno super aplicado.Disciplinas como Matemática,Física,Biologia não eram as que mais me atraiam, na verdade não me atraíam nem um pouco, mas algumas coisas eu gostava como História,Português,Literatura e me aplicava nestas.Mas também nunca fui um aluno levado,sempre fui tranqüilo.

Em que momento da tua vida percebeu que era Jornalismo que você queria fazer?
-Na verdade eu sou jornalista para escrever,não escrevo porque sou jornalista.Eu sempre quis fazer isto porque eu sempre quis trabalhar escrevendo, este sempre foi o meu objetivo,desde pequeno.

E você nunca teve nenhuma crise de criatividade, algum tempo que escrever simplesmente não fluía como antes?
-Com certeza isso acontece, mas eu estou sempre procurando alguma coisa, fico pensando o tempo inteiro sobre o que eu vou escrever, é aquela coisa, eu estou sempre naquela angústia de achar um assunto bom. Às vezes acontece de chegar no dia e você acaba escrevendo algo que não é aquela idéia maravilhosa que você tanto queria, então tu fica meio decepcionado consigo. A minha intenção sempre é, com cada texto que eu escrevo, seja para o blog ou para o jornal ou para alguma coisa além disso,é que aquele texto seja o melhor que eu já escrevi,o melhor da minha vida.Mas quando chega a hora e eu simplesmente não tenho nada, o jeito é pensar muito e buscar o que eu tiver.

Qual a primeira redação que você trabalhou?
-A primeira foi no Diário Catarinense, logo que ele foi fundado em 1986.Antes eu já tinha trabalhado em outros lugares, mas eram coisas pequenas.Eu me lembro que eu estava enlouquecido para trabalhar numa redação.Eu já trabalhava como jornalista, mas não em redação de jornal e eu queria muito fazer isso,ser repórter,escrever,fazer matérias,porque eu gosto também de fazer reportagens, então eu estava muito ansioso para ter liberdade de fazer todas estas coisas,então foi muito legal isso de eu sair daqui e ir para Santa Catarina,aonde eu não conhecia ninguém,ninguém conhecia o meu trabalho e poder fazer tudo da minha maneira, poder fazer as coisas do meu estilo mesmo, pois pelo fato de ninguém saber como eu trabalhava ampliava as minhas possibilidades de escrever, ninguém sabia como eu ia me portar diante de “tal” situação, ninguém sabia o que eu ia escrever sobre aquilo, afinal aqui as pessoas já tinham uma idéia pré-concebida sobre a minha maneira de escrever, e com essas novas possibilidades, tu aprende coisas que você nem sabia que estavam dentro de ti, ali você pode inventar uma forma de escrever, como você quer escrever naquele determinado momento porque ninguém está esperando que você faça isto ou aquilo e isso foi a melhor parte disso.Sem contar as pessoas que você conhece nestas experiências, com quem você cria laços para toda a vida.

Já aconteceu de você “se empolgar” e aumentar um fato ou então de escrever algo que não era exatamente aquilo que aconteceu?
-Nossa, isso é o que mais acontece (risos). Até o pessoal costuma reclamar que eu escrevo demais, todo mundo reclama que eu escrevo demais.Aliás,quando eu era pirralho as professoras reclamavam:–“Tu escreve demais David”.(risos)

Da onde veio inspiração pra escrever o primeiro livro?
-Bom, o meu primeiro livro publicado foi o do caso Daudt (800 Noites de Junho ) e essa era uma história que eu tinha muita vontade de escrever,era uma história que tem sangue,sexo,violência, até eu sempre digo que sangue e sexo são os assuntos que as pessoas mais gostam ,é o que motiva elas (risos) , então como eu queria escrevê-la há um tempão,e quando ele mesmo desistiu de escrever essa história, resolvi que eu ia fazer um livro de reportagens sobre isso e foi o que eu fiz e gostei muito do resultado.

Nos seus livros, crônicas e até no modo que fala no Pretinho Básico, nos passa uma idéia de galanteador, conquistador,até a maneira que você descreve as mulheres nos dá a entender que você é safado mesmo.Você é mesmo assim ou é só um personagem?
-Mas tu acha que eu passo essa idéia?São só os guris do PB que falam isso (risos) . A verdade é que eu gosto de mulher né, o que eu vou fazer? (risos) E daí ,se eu sou safado, eu deixo por tua conta (risos).


É muito fácil reconhecer um texto seu,essa identidade dos seus textos (leitorinhos, chops cremosos), sempre foi a sua maneira de escrever ,decidiu que tinha que ter algo diferente ou acabou adquirindo isso com o tempo?
-Cada coisa que eu escrevo, como eu já disse, eu tento escrever o melhor possível então não é uma coisa premeditada , eu acabo escrevendo com toda a vontade que eu tenho sabe e independentemente do que quer que você faça, tem que ser sincero naquilo, tem que mostrar que é você, não adianta querer inventar moda porque as pessoas percebem que você está fazendo algo que não é sincero,então tu tem que fazer aquilo que tiver afim de fazer,sem buscar ter uma segunda intenção, querer fazer polêmica com o texto, por exemplo, querer sucesso por sucesso.Tu tem que fazer aquilo que tu pensa que tem que fazer.

Escrevia na pagina 2 da Zer Hora.Qual é a diferença em escrever na coluna de esportes?
-Além de o assunto ser completamente diferente, tu tem que fazer uma abordagem deste assunto de um modo diferente também,”algo mais sério” pois entra a minha opinião do caso que eu vou contar,é outra abordagem,porque a pessoa que for ler a página 2 vai ler o esporte então ela espera um outro tipo de abordagem do que ela vai ler no esporte,na polícia enfim,então o que muda basicamente é a maneira de escrever.


Dê um recado ou conselho para os estudantes do 1º nível de Jornalismo da UPF.
-Eu não gosto muito de dar conselho, mas eu acho que não só para os estudantes de jornalismo, mas principalmente para eles o que eu digo é para que leiam sempre, estejam sempre lendo,revistas,jornais mas principalmente livros, termina de ler um livro vai pra outro, terminou este outro vai pra outro...Porque isso que nos dá ferramenta para trabalhar, o nosso instrumento é a palavra,mesmo que você vá para a TV ou para o Rádio,vai precisar da palavra para se expressar,para argumentar, tu vai precisar de uma fluência verbal.E pode notar que os que são os melhores na TV,são aqueles que passaram por jornal,porque eles tem exatamente este poder da palavra, colocar aquilo que estão pensando de forma adequada, da maneira que se está pensando.

Entrevista realizada em 03/11/2009 por Ingra Costa e Silva