março 27, 2013

Um lugar de ser feliz


Existe o costume de dar-se presentes quando alguem aniversaria. Ganha-se perfumes, jóias, ursos de pelúcia ou qualquer outra lembrança. E entre os presentes que desde já venho adquirindo em virtude dos meus 22 anos que serão completados na próxima semana, creio que um ndos que mais me tocou foi esse monte de letras reunídas pelo amigo e parceiro de escrita Leonardo Lima. Mesmo colocando-me numa posição que não consigo sequer me imaginar, confesso que abri muitos sorrisos a cada parágrafo que lia. Sem palavras para agradecer meu querido. E que nossa parceria dure muitos e muitos anos.
Abaixo, o presente.






UM LUGAR DE SER FELIZ

Há muitos e muitos anos, em um reino distante, encravado nas terras vermelhas do Planalto Médio do sul das Américas, vivia um povo diferente. Eles não se organizavam como as sociedades atuais, não havia leis, não havia religião, não havia fronteiras e as famílias eram compostas de acordo com o interesse de cada pessoa, sem a obrigatoriedade dos agrupamentos de dois. Eles até gostariam de eliminar a divisão social que os separava de sua rainha, mas nem ela e nem eles conseguiam, tamanha era a luz própria e encanto que ela exercia sobre todos.

Ela era uma mulher linda, charmosa. Sensualidade era para ela como respirar, não exigia nenhum esforço. Ela parecia ter saído de uma fornada artesanal da argila mais fina e pura da região. Sua pele era macia e brilhava quando qualquer feixe de luz ousava tocá-la. Seus olhos pareciam duas ágatas marrons que, como bom quartzo, ainda guardavam a luminosidade, o calor das lavas e a força da erupção que as gerou. Seus cabelos longos e ondulados eram como labaredas, cheios movimento, de nuances, de cores e muito ton sur ton. Suas formas eram irritantemente perfeitas e invadiam os olhos dos que olhavam. Seu corpo era adornado com metais e tintas que a deixavam, além de bela, exótica. Suas roupas e panos, escolhidos para combinar com cada ocasião e curva do seu corpo, faziam valer a vista. O conjunto era deslumbrante. Uma visão.

Mas essa rainha era ainda mais intrigante. Era uma rainha sem rei. Sorria ao passar por todos e, como uma sereia, hipnotizava, mesmo sem querer, quem estivesse ouvindo. No começo esse encanto deixava-a constrangida, mas com o passar do tempo ela compreendeu que seu papel e sua essência eram esses. Não havia como mudar sua essência e lutar contra sua natureza sedutora. Ela era e adorava ser o centro das atenções. Adorava o feitiço que causava. Adorava o poder que, em silêncio, apenas com o olhar ou com um movimento mais insinuante, ela exercia sobre os homens e mulheres de seu reino. Ela provavelmente se insinuava em silêncio para não causar alvoroço em seu reino.

E foi assim, que a Rainha Ingra, das terras vermelhas do Planalto Médio, fez seu reino prosperar em felicidade. Lá, ela não travou batalhas e nem sangrou por conquistas. Lá as únicas conquistas eram as que ela desejava trazer para seu leito real, e foram muitas. A cada ameaça de invasão, ela cavalgava nua enfeitiçando os exércitos inimigos que logo se negavam a ataca-la. Muitos desertavam e juntavam-se a seu reino jurando amor eterno. Ela nunca desejou expandir suas terras e jamais usou seus poderes em causas pouco justas. Ela somente combatia os que agrediam suas crenças. E combatia com ferozmente, estes sim, ela fazia sangrar, até matar suas vidas e calar suas vozes.

A rainha Ingra nunca se casou. Ela tinha amores demais e não conseguiria escolher apenas um. Vivia com todos eles em seu castelo em uma harmonia pouco usual nos dias atuais. A veneração por aquela mulher era tamanha que, esses homens e mulheres que viveram ao lado dela, sempre a preservaram de ter que fazer este tipo de escolha excludente. Intensa e muito fiel às suas crenças e valores, ela ensinou aos que puderam dividir sua cama, os prazeres mais duradouros, os mistérios que se escondem em cada canto do corpo, a magia dos beijos, o segredo do toque, as manobras que só com aqueles lábios carnudos e deliciosos ela conseguia fazer, a necessidade de brincar com os aromas e sabores, de amar com carinho e ternura, sem esquecer a força e a fúria, que o desejo faz surgir na hora do prazer.

Era amada como rainha, mulher e amante. Simples, ao mesmo tempo em que era complexa e extremamente inteligente. Buscou estar sempre demonstrando seu amor a todo instante e sempre esperou que as pessoas que amou fizessem o mesmo. Ela não deu para não receber. Deu, não pediu nada em troca, mas seu coração sempre esperou reciprocidade.

Mas também era suficientemente prática para não perder tempo com quem não dedicasse o tempo que ela determinava que merecia. Ela se dava demais para não receber. Protegia demais para não ser protegida. Afinal, apesar de ser rainha, Ingra era mulher. A MULHER. Mas não mulherzinha que se dobra e se autodestrói para parecer mais frágil e chamar a atenção. Isso para ela nunca foi problema.

Muito astuta, Ingra que sempre foi muito preocupada com as finanças do reino, fez as economias crescerem, as riquezas aumentarem e seu patrimônio multiplicar. Rainha que além de bela amava o belo, Ingra que já nasceu com poder, sempre teve, no poder financeiro, a segurança para realizar todos os desejos pessoais e os desejos que trariam benefícios para seu povo. Vaidosa, a rainha sempre vez seu povo ver sua imagem associada aos mais belos vestidos, às melhores joias, pedras, sapatos e tudo de melhor que fizesse par com sua beleza.

Ela teve alguns herdeiros, mas o Reino das Terras Vermelhas do Planalto Médio não fazia sentido sem a Rainha Ingra. Ao final de sua vida, seu último desejo foi que todo seu povo se espalhasse pelo mundo e multiplicasse seus valores de liberdade, justiça e coragem. Que eles ensinassem aos menos possibilitados como lutar pelo que desejam e pelo que é justo. Que sua memória fosse celebrada em atos de bravura, em movimentos de contestação contra o desamor. Que sua vida fosse lembrada onde houvesse tristeza e dor, para que sua história ajudasse a trazer alegria e fé. Para que assim como foi seu reino, outros muitos reinos pudessem surgir e formar um mundo de respeito, felicidade, harmonia e paz.

Ao terminar de falar, a rainha Ingra fechou os olhos e toda aquela luz que brilhou durante os muitos anos em que viveu, começou a se espalhar pelo quarto. Era dia 02 de abril. As pessoas que estavam no quarto foram invadidas por essa luz e uma sensação de tranquilidade acalmou seus corações, elas puderam sorrir, o brilho era muito intenso. Quando parou, a rainha mais amada do mundo já não estava mais ali deitada, mas todos podiam sentir sua presença viva em seus corações.

FIM.

FELIZ ANIVERSÁRIO RAINHA