maio 21, 2012

Preto, arco íris e incompatibilidade religiosa

Haviam saído de relacionamentos difíceis quando se conheceram
E pelo sofrimento em comum, viraram amigos. Grandes amigos. Melhores amigos
E se apaixonaram.

Viveram o maior relacionamento (por amor) de suas vidas.
Não precisavam de anéis, exclusividade ou status em redes sociais para saber que se pertenciam. 
Amavam-se e isso era o suficiente.
Era visível para qualquer pessoa que com eles convivesse o quão forte era aquele sentimento.
Forte . Limpo. Puro. E feliz.
Feliz da maneira que era. Sem cobranças, obrigações ou limitações. 
Feliz por se verem muito mais do que como qualquer namorado: se tinham como amigos.
Amantes. Confidentes.


Se tinham em qualquer momento. Para qualquer momento.
Nas risadas nas escadas do prédio, nas escapadas de sala de aula para se verem, ao voltar para a sala como se nada tivesse acontecido. Ao expor o desespero em função das dívidas, ao chorar mágoas do passado,ao se ligarem com declarações mirabolantes quando, no meio da noite, o álcool tomava conta de seus corpos ou ao se proibirem de sequer pensar em futuro.
A própria palavra, em suas conversas, era proibida.
Ela nunca havia entendido.
Até hoje.


O futuro dele era regido pelo livre arbítrio do Senhor.
Que diz que teria de escolher alguém como manda o evangelho.
O livre arbítrio de amar ela, ela amar ele mas deixar o amor de lado por que um não enquadra no que diz a palavra d'Ele.
E ela não se enquadrava. Nunca seguira esse padrão.
Nunca se sujeitaria a cura proposta.


E num último beijo, salgado pelas lágrimas, se despediram
Se abraçaram tão forte e com tanto amor
Que eu, mera espectadora, sofri.


Senti que preferiam morrer ali, abraçados
a ter que se verem indo embora.
Senti como se anos tivessem passado

enquanto se abraçavam.


Ele riu do esmalte dela, como sempre
Ela riu sem saber do quê.
Já dizia aquela música do Frejat, que rir de tudo é desespero.


Desespero de perder tudo para algo não palpável
De ver um futuro que nunca existiria, escorregar entre seus dedos
De ver aqueles olhos verdes tão tristes
quanto os seus, cor de caramelo, estavam.
Desespero de amar, ser amada
Mas não poder ser feliz.


Se deram tchau, sem se olhar.
Cada um foi para um lado
Com uma bigorna de dor nas costas
e um punhal no coração.


Ela, que tinha a maquiagem preta borrada pelas lágrimas
Abraçou-me forte e disse
"Não me decepcione agora. Se me abandonar não tenho mais ninguém"
E não tinha.


-ICS