abril 25, 2013

48 cores


Limpando o quarto encontrou uma carta antiga..
Não escrevera a carta a mão.
Quando a ganhou, ficou chateada.
Queria guardar as letras dele.

Queria aqueles infinitos erros de português que tanto a perturbavam
Com o teu toque direto no papel.
Queria cheirar aquela folha e sentir teu perfume único.

Colocou todo o pouco que tinha 'de nós' dentro de uma caixa.
Guardou as lembranças para que, nas madrugadas solitárias
Secretamente releia e reviva tudo de bom que viveram.

Nunca fora boa com sentimentos.
Sempre os canalizava de forma errada.

Fugia.

O desejo de que o dia passasse logo para o ver
Virava uma desculpa para não vê-lo.
A vontade louca de tocá-lo
Transformava-se no telefone que tocava até a ligação cair.

O desejo de tornar o romance oficial
Foi traduzido com passagens só de ida para o litoral.

Sempre fizera tudo errado.
E sabia disso.

Mas só queria a letra feia num papel
O cheiro no travesseiro
E uma argola brilhante no dedo.

Mas fugia.
Sempre fugia...

Ao menos ainda guarda a caligrafia
-dizendo que colore sua vida-
Gravada na alma.

-ICS